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CARTA DO RIO – 106 por Rachel Gutiérrez

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Além da violência contra as mulheres, que mobilizou tanta gente após as notícias sobre o estupro coletivo, sofrido pela adolescente do Rio de Janeiro, chocam-nos agora notícias sobre o desamparo de crianças que se comportam como delinquentes, como os dois meninos de São Paulo, de onze e dez anos, que roubaram um automóvel e, perseguidos pela polícia, se envolveram num tiroteio que acabou com a vida do mais novo, o  de 10 anos!  Que país é este?  E que mundo é este quando soubemos também que no Japão, os pais de um garotinho de 7 anos,  verdadeiros bruxos de uma aterrorizante história infantil, o abandonaram na entrada de um bosque habitado por ursos e outros animais selvagens, porque ele se comportara mal.

As crianças são as maiores vítimas das tragédias deste nosso insensato mundo. Entre os infelizes refugiados que correm o risco de morrer afogados para fugir das bombas das intermináveis guerras em seus países, houve a visão extremamente dolorosa de um voluntário com mais uma criança morta nos braços, na beira de uma praia da Europa.

No Brasil. milhares de crianças não vão à escola e trabalham desde a mais tenra idade tanto no campo como em fábricas e em casas de família, em regime de quase escravidão porque, além de comida, poucos recebem algum tipo de remuneração; o Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo revela que mais de mil crianças e adolescentes que vivem nas ruas da capital paulista são viciadas em crack; segundo a UNICEF, em dados já antigos, de 2010, cerca de 250 mil crianças estão prostituídas no Brasil. E, no caso desse último flagelo, o grande complicador é o chamado turismo sexual: meninas pobres, moradoras das regiões periféricas dos grandes centros urbanos, assim como nas principais praias nordestinas, são levadas a se oferecer como mercadoria barata aos turistas que chegam em busca de sexo.

Quando se trata de educação: o Brasil ocupa o 53º lugar entre 65 países avaliados…  e 731 mil crianças ainda estão fora da escola, segundo dados do IBGE. O analfabetismo funcional é alarmante: “ 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler;  20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita.

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Então, quando já estava desalentada diante desses tristes dados, eis que salta, mais uma vez, do poema de Péguy, a menina Esperança e pede que eu faça um contraponto a tudo isso com a divulgação do vídeo do último Globo Reporter, da TV, sobre programas realizados em várias favelas. Depois dos estudantes de música, o que mais impressiona é um projeto bem sucedido que se chama Dançando para não Dançar, em andamento desde 1995 no Rio de Janeiro.

Esperança insiste em me demonstrar que quando o mundo parece terrível, injusto e cruel, o que há a fazer é olhar para alguma coisa bonita, geralmente ligada à Arte e à Cultura. Sem esquecermos, neste caso, os dedicados e generosos professores que se consagram à sua transmissão.

O vídeo é tão comovente e tão mais eloquente do que tudo que eu possa dizer que concordo em, de muito bom grado e na reconfortante companhia de minha fiel amiguinha, mostrá-lo a seguir.

 

 


Filed under: Literatura Tagged: carta do rio, projeto "Dançando para não Dançar", rachel gutiérrez

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